Retirar-se

“A Montanha sob o Céu: a imagem do retirar-se. O que é superior domina não pelo conflito, mas por manter a distância correta de cada coisa” diz o hexagrama que o vento nordeste desenha no céu, nítido e fugaz, enquanto rezo na janela por mim, por todos os mortos, pelos meus amados, vivos e mortos, e por cada vizinho que dorme por detrás de cada janela escura. Rezo a Deus que lhes acenda a fé durante o sono num lampejo de sua Glória e então para sempre acordarão outros sem saber. Rezo que a conversão lhes seja fácil e venha em sonho.

Rezo. E cada vez gosto mais de rezar.

Tenho minhas orações particulares e tenho o Rosário com seus terços de Mistérios. Gosto de mergulhar longamente em cada Mistério antes de rezar as orações de praxe e assim em sucessão até o Salve Regina que lhes coroa o fim. Tanta coisa me vem enquanto rezo, grãoszinhos epifânicos que me rejubila sentir e deixar passar, tão certo estou que não preciso guardá-los porque eles se lembrarão de mim na hora certa: certos pensamentos são como anjos. Como são anjos as orações. Deve ser por isso que gosto de rezar na janela…

“O caminho se revela nas pequenas coisas, nos gestos e cuidados mais simples, como é a tarefa de regar regularmente as plantas para que floresçam e frutifiquem quando chegar a hora.”