“Este é um livro raro! O exemplar que possuía me foi roubado em Brasilia. Levei 20 anos para conseguir um outro exemplar. Vitória! Rio de Janeiro, 24 de março de 2003”
Quase 20 anos depois, encontrei o livro na lixeira do meu prédio. Podia terminar aqui a crônica e deixar ao leitor a moral da história. Mas a vaidade me obriga a ser prolixo. Começo então pelo título: As Maravilhas da Matemática, volume 1, de Lancelot Hogben, edição segunda, maio de 1956. Capa dura, quase 800 páginas, um luxo que não resisti a mandar reencadernar. Para honrar o transitório como me ensinou Paloma.
O livro ganhou outra vida que, espero, acabe melhor que essa outra, terminada na lixeira. Até ia me por a especular como terá sido esse percurso, mas quase entristeci só de pensar. Livro novo, vida nova.
Enfim, por obra do acaso, onde sempre insisto em sentir o sussurro de algum anjo, ele veio dar em minhas mãos e coube a mim honrar o transitório – como gosto dessa expressão! – salvando o livro (que são seres tão espirituais como os anjos, afinal). Não custa imaginar que uma alma antes aflita tenha soltado um ufa! lá no céu, essa lufadinha de vento súbita que passou feito carícia e vai me servir de final para esta crônica.