Palavras ao vento

Geme o vento sob o céu límpido das últimas luzes do crepúsculo. Arma-se uma tempestade, pois já se vêem nuvens brevemente azuis vindo do poente. São seis da tarde e os sinos convidam para a missa, mas eu os ouço como se assinalassem a iminência do desastre: é minha sina ser assim doente da imaginação.

Quanto prazer isso já me deu – e quanta dor! Mas fez valer a vida e pagou o ridículo de existir. É o que basta. Invoquei meus santos quando tudo me faltava e penso ter visto Deus em toda parte. Não fui de todo bom, mas sempre tive mais medo de magoar do que de morrer. E se fui covarde – e fui – também soube ser heróico quando foi preciso.

Sigo-Te à distância e vou distribuindo aos pobres o que tenho – mas aos poucos.