O nômade imóvel

Nasci no Largo do Machado.

Meu país é limitado ao Norte pela avenida Gomes Freire, onde, um pouco adiante, na Ordem do Carmo, minha mãe me deu à luz, numa noite de São Jorge. Ao Sul, minha fronteira é a linha incerta que separa Flamengo e Botafogo. A Oeste, me estendo até o Cosme Velho. E a Leste, há a Baía de Guanabara, onde o Atlântico descansa e se nutre.

Santa Teresa não me é um território estranho, mas, pelo resto do mundo, vago, nômade e estrangeiro.

O medo, a perplexidade e o êxtase foram companheiros inseparáveis de minha solidão silenciosa (mas não poucas vezes inconveniente e histriônica).

Nunca saí do meu país, ainda que o tenha reencontrado em todos os lugares. Nunca abandonei seus mitos e lendas, mas aos poucos percebi que são como máscaras que estão por toda parte.

Todos e ninguém, fiz da velhice minha capital. Do castelo da memória, às vezes penso divisar o que logo saberei. Não tenho pressa, porque tudo ainda me encanta. Caetânia é uma terra feliz.