Tudo mata ou tudo nutre, discute-se.
Mas de fato pouco há que me encante,
Constato sem lamento.
Pois contenta-me esse pouco
e dele extraio tanto
que se mais houvesse
Eu não daria conta.
A embriaguez discreta
De estar vivo me toma
quando falta-me a fé
e desespero:
ao buscar as causas
perco o sentido que
a própria vida é.
Mas me retomo e me esqueço
se contemplo o minucioso
espetáculo que me cerca:
há a chuva, o jazz que toca,
E Tao, a gata, largada na cadeira, sonha.
Como não ver Deus oculto e evidente
em tudo isso – e alegrar-se?
Alegrar-se por ter palavras pra dizê-lo,
criatura que vislumbra o mistério
e que um dia irá sabê-lo.