Tudo o que você precisa saber sobre o conflito entre israelenses e palestinos

“1-Os refugiados árabes, cerca de 725 000 pessoas, fugiram à frente da guerra desencadeada em 1948 pelos Estados Árabes vizinhos. Sem invasão árabe não só não haveria refugiados, como existiria desde 1948 um estado palestiniano na Margem Ocidental e em Gaza.

2- Após a vitória, Israel legislou (Haq el-Auda) no sentido de permitir o regresso dos árabes, desde que assinassem uma declaração de renúncia à violência e de assumpção da cidadania israelita. 150 000 árabes fizeram-no, juntando-se aos 170 000 que tinham ficado e que hoje são cerca de 1,4 milhões de cidadãos israelitas, com deputados, governantes, juízes no Supremo Tribunal, professores, militares,etc.

(…)

-Entre 1949 e 1954, como vingança pela derrota de 1948, 800 000 judeus foram expulsos do Iraque, Marrocos, Tunísia, Jordânia, Irão, etc, tendo sido despojados de tudo o que tinham. Muitos deles foram para Israel e integraram-se na sociedade, sem o apoio da ONU, sem choradinhos vitimizadores e sem exigência de “direito de regresso”
Não constam sequer no horizonte mental dos “apoiantes da causa palestiniana”.”

Leia o resumo completo no excelente O Triunfo dos Porcos.

Obtusidade meridional

Durante a guerra fria, o antiamericanismo da esquerda latino-americana veiculava apenas a adesão a Moscou e ao “socialismo real”. A queda do Muro de Berlim representou a perda de um programa, de uma visão de futuro e de uma referência geopolítica. Socialismo converteu-se em pouco mais que uma expressão vazia: no máximo, como acontece na Venezuela, algo a ser reinventado, uma moldura em busca de uma paisagem.”

Demétrio Magnoli, no Jornal de Debates

De volta ao Fazendão

Por mais tentador que seja o “projeto etanol” é preciso ficar de olho ou voltamos a ser o “Grande Fazendão”. A China está destruindo nossa indústria, o governo sangrando a classe média com impostos altíssimos, os banqueiros concentrando cada vez mais renda e a o Estado crescendo assutadoramente.

Seremos um país agrícola, “o celeiro do mundo”, e turístico. Um Macunaíma gordo e sem grandes ambições, dividido em quatro classes: o capital monopolista e a burocracia vitalícia, que irão controlar a macroeconomia em moeda forte; a pequena burguesia acuada e os miseráveis profissionais, que farão o arremedo nativo da luta de classes sem fim, remunerados em bolívares ou algo semelhante. O Estado claro será neosocialista, com muito futebol, samba e fuzilamentos públicos.

Ingenuidade nativa

Acho tola a interpretação que faz de Bush um mero esbirro da indústria do petróleo, defendida, por exemplo, pelo Ricardo Noblat.
Imaginar a complexíssima política externa da maior economia do mundo subordinada aos interesses exclusivos de uma indústria específica é coisa de nativos.
Só pra ser uma idéia, o PIB americano gira em torno de 13 trilhões de dólares, maior que a soma dos PIBs de Japão, Alemanha, China e Inglaterra.

Por outro lado, crer que essa mesma indústria poderosíssima não tem meios e recursos para sobreviver a uma “virada energética” que deve se estender por ao menos duas décadas também não parece razoável.

Na verdade, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é: o ônus de ser a maior economia do mundo não é pequeno. Do comércio com os EUA dependem direta ou indiretamente o resto do planeta, de Bin Laden e Chavez à China e Índia, passando por países tão díspares quanto México, Canadá, Iraque, Arabia Saudita e Israel. Mesmo a maior parte dos movimentos e pessoas que se opõem ao “império americano” vivem nos EUA e dependem dos finaciamentos das fundações e universidades americanas!

Eu acredito que o “projeto etanol” é o plano B americano. O plano A – que seria implantar uma democracia no Iraque e inundar o mercado de petróleo barato – não deu certo. Para azar exatamente dos nativos que gritam “Fora, Bush!” por aí.

O Plano B nos custará, para nós nativos, mais caro.
Mas é sobretudo o que os EUA mais precisavam no momento: uma causa.
1) Unifica o país em torno do “combate ao aquecimento global”.
2) Retoca a imagem dos americanos no mundo.
3) Mantém o país na vanguarda tenológica.
4) Esvazia politica e economicamente os “inimigos” mais imediatos dos EUA: Rússia, Irã e Venezuela.

Matemática ideológica

É absurdo que dois veículos do mesmo grupo, G1 e Globo Online, um estime em “mais de dez mil pessoas” e o outro em “pelo menos seis mil pessoas” o número de manifestantes em SP.

O mínimo que espera de um Grupo de Comunicação é coerência de informação e anaálise. Não é possível e chega mesmo a ser ridículo que, por exemplo, a versão online do jornal O Globo seja chavista (a ponto de omitir as críticas de Chavez e Fidel ao uso do etanol), enquanto a versão impressa, que é o veículo principal, aquele que tem de fato assinantes, tenha uma abordagem mais equilibrada.

Dos perigos do baseball

O Jornal de Debates lançou a seguinte pergunta:

“Visita de Bush: jogo dos americanos interessa?”

Ao que eu prontamente respondi, imbuído do mais profundo espírito nacionalista:

“Claro que não! O baseball é um perigo. Vejam o exemplo de Cuba. Fidel está no poder há 49 anos e até hoje não conseguiu acabar com esse jogo imperialista. E olhem que Fidel conseguiu acabar com tudo em Cuba: acabou com a agricultura, a indústria, a arte, a música, a cultura. Só não conseguiu acabar com baseball.

Pior, segundo a revista Forbes, Fidel já foi flagrado várias vezes praticando baseball às escondidas, vestido igualzinho a um imperialista ianque.


O Celso Amorim não pode de jeito nenhum aceitar o jogo americano. A única coisa, aliás, que o chanceler precisa fazer imediatamente é mudar o penteado.”

Pedras, poemas e pardais

De súbito, percebo movimento na janela do quarto: há um pardal pousado no parapeito. Parece aproveitar a sombra da persiana para descansar do calor que faz lá fora.

Fico quieto e em silêncio: na árida geografia desta casa, onde há livros demais e vivos de menos (na verdade,de moradores regulares somos eu e as formigas), todas as visitas são bem-vindas. E em nossa mitologia, pássaros pousados na janela são sinais de fortuna e boa sorte.

Fico vendo: simpatizo com a nervosa perplexidade dos pássaros, sempre prestes a partir, movidos sabe-se lá por que pressas ou que medos.

Penso que uma crônica deveria ser como um pardal pousado na janela: breve, inesperada e desimportante. Bem, se não toda crônica, esta, ao menos, podia ter a leveza de um pardal pousado na janela. Faria o leitor eventual parar um instante, e nem exatamente refletir, mas admirar-se, tomado de uma surpresa alegre e esquecível, como quem acha uma foto desbotada na gaveta ou, vá lá, vê um pardal pousado na janela.

Mas, será o calor ou essa lua quase cheia ou que outra coisa insondável que me andará pela alma, hoje as palavras parecem não ter asas, duras e mudas como pedras.

Ora, pedras! Os japoneses fazem jardins com elas!

Então ficamos assim, leitor: se esta crônica não pode ser um pardal pousado na janela, será um jardim de pedras. Austera e econômica como o célebre poema de Drummond:

“No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca esquecerei desse acontecimento
na vida das minhas retinas tão fatigadas.
Nunca esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.”

Bom reler esse poema de Drummond e agora deixá-lo bem aqui, no meio do caminho, como uma pedra – e tão inesperada como um pardal pousado na janela.

Bom saber que mesmo no mais pobre dos dias sempre haverá um pardal, uma pedra ou um poema alheio que me ampare. E a crônica não faltará ao dever de estar aí, pausa e sombra para os olhos cansados.

Fidel, Chavez e o aquecimento global

Matéria publicada em O Globo e estranhamente ignorada em O Globo online:

“O presidente de Cuba, Fidel Castro, endossou as críticas do presidente venezuelano, Hugo Chávez, ao uso do etanol como alternativa aos combustíveis fósseis.

Castro, afastado do poder desde agosto do ano passado, conversou com Chávez, na terça-feira, no programa de rádio do presidente venezuelano.

— A idéia de plantar alimentos para produzir combustível é trágica, é dramática.

Por isso, felicito o presidente Chávez por criticar o etanol como combustível alternativo ao petróleo, principalmente por causa do impacto que isso pode ter sobre o preço dos alimentos — disse Fidel, ao ser indagado por Chávez sobre o que achava do etanol.

A produção do etanol é uma das grandes alternativas apresentadas pelo Brasil para a questão energética e será alvo de acordo de cooperação entre Washington e Brasília. A Venezuela, no entanto, que tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo, tem feito campanhas sistemáticas contra o uso do combustível. Os canais de TV controlados pelo governo exibem programas sobre o tema, afirmando que a produção do etanol pode produzir um grande impacto no preço da cana-de-açúcar e do milho, afetando principalmente as classes mais pobres.

— Agradeço a Fidel por dar sua importante opinião sobre o etanol. É preciso esclarecer o quanto a substituição do petróleo por esse combustível pode ser ruim, principalmente para a população mais pobre — disse Chávez.”

* * *

Como se vê, a tese do aquecimento global, que agora encontrou seu “paladino americano” na figura oportunista de Al Gore, vai dividir espetacularmente as esquerdas.

Hoje os principais opositores dos EUA e da democracia ocidental estão também entre os maiores produtores de petróleo: Rússia, Irã e Venezuela.

O “plano A” americano, tocado por Bush, tinha um viés francamente popular pois se baseava num raciocínio quase simplório: 1) instalar uma democracia no Iraque, estabilizando a situação política na região; 2) regularizar a oferta de petróleo, barateando os preços (o petróleo iraquiano é de altíssima qualidade e de fácil extração); 3) favorecer uma rápida expansão do industrialismo nos países em desenvolvimento para só então passar à etapa de substituição das fontes de energia.

Como já é sabido, o “plano A” não deu certo. Por inúmeras razões, os países desenvolvidos se recusaram a aderir e os países em desenvolvimento, insuflados por uma esquerda burra e/ou mal-intencionada (a matéria acima o demonstra claramente), se colocaram contra o “Império”.

Entrou então no ar o “plano B”. Sob o pretexto falacioso do “aquecimento global”, os EUA agora já admitem cortar o consumo de petróleo em 30% nos próximos dez anos. Alguém aí duvida que consigam? Tudo que os americanos precisam é de uma causa que 1) unifique o país; 2) o reconcile com o restante do mundo e 3) o mantenha na vanguarda tecnológica.

Como o mundo industrial não pode parar, a alternativa primeira é substituir o petróleo por etanol e biodiesel. O custo dessa troca, por ironia, será mais pesado exatamente para aqueles que mais se opuseram à “solução iraquiana”: os mais pobres – pessoas e países.

Porque a primeira consequência e a mais óbvia já começou a se fazer sentir: o preço dos alimentos está subindo vertiginosamente. O milho, de onde os americanos extraem o etanol, já está mais caro tanto nos EUA quanto no México. Resultado: alta no preço das tortillas, no México e crise no mercado aviário americano, porque a troca de soja por milho, fez subir excessivamente o custo da ração.

Revolta fiscal já!

Compare os dois textos extraídos de O Globo, 01/03/07:

“Carga tributária atingiu 38,80% do PIB, diz IBPT

A carga tributária brasileira atingiu 38,80% do PIB em 2006, com crescimento de 0,98 ponto percentual em relação a 2005, quando alcançou 37,82%. Os cálculos do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário ((IBPT).

Os dados são baseados no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro que cresceu 2,9% em 2006, segundo o IBGE. De acordo com Gilberto Amaral, presidente do IBPT, cada brasileiro pagou de tributos em média R$ 4.434,68 em 2006, ou seja R$ 447,23 a mais que em 2005.

O total da arrecadação tributária nos três níveis foi de R$ 815,07 bilhões em 2006, ante R$ 732,87 bilhões do ano anterior. Só de tributos federais o valor chegou a R$ 569,78 bilhões em 2006, em comparação aos R$ 514,42 bilhões em 2005. Os tributos estaduais no total foram de R$ 201,69 bilhões em 2006, em relação aos R$ 187,87 bilhões em 2005. Já quanto aos tributos municipais, o valor de arrecadação foi de R$ 33,59 bilhões em 2006, ante R$ 30,57 bilhões em 2005.

“Não há dúvida que o excesso de tributação retira o poder de compra dos salários ao mesmo tempo em que aumenta o preço final das mercadorias e serviços. Isto retrai o consumo, afasta investimentos produtivos e dificulta a geração de empregos formais”, diz Amaral em nota.”

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“Carta-bomba

A Receita informa: tenho 48 horas para pagar R$ 11.448,22

(…) A Receita Federal me dava 48 horas para pagar R$ 11.448,22. E acrescentava, numa letra minúscula que só consegui ler de puro pavor: “Caso (o débito) não seja pago ou parcelado será ajuizada a competente ação de execução fiscal, o que resultará na penhora de bens e conseqüente alienação em leilão”.

Pergunto: quem tem quase 12 mil reais só assim, sobrando, para pagar à Receita? Digo, quem cidadão de bem, não-sanguessuga ou mensaleiro?! Já nem vou entrar pela questão político-filosófica que vem embutida numa cacetada dessas — por quê tenho que pagar tudo isso, além do que já pago todos os meses?! Por quê tenho que trabalhar a metade do ano para sustentar maracutaias, valeriodutos e corruptos de maior ou menor porte?! Independentemente disso tudo, que não é pouco: de onde se tiram 12 mil reais de um dia para o outro, quando não se tem poupança, investimentos, carro ou amigos generosos como, digamos, um Paulo Okamoto?! (…)”