A escalada armamentista de Chavez

Deu no NYT:

“Since 2005, Venezuela has signed contracts with Russia for 24 Sukhoi fighter jets, 50 transport and attack helicopters, and 100,000 assault rifles. Venezuela also has plans to open Latin America’s first Kalashnikov factory, to produce the Russian-designed rifles in the city of Maracay.

A report in January by the Pentagon’s Defense Intelligence Agency pegged Venezuela’s arms purchases in the past two years at $4.3 billion, ahead of Pakistan’s $3 billion and Iran’s $1.7 billion in that period.” Para ler a matéria clique aqui

O apelo de Heidelberg (1992)

“We want to make our full contribution to the preservation of our common heritage, the Earth.

We are, however, worried at the dawn of the twenty-first century, at the emergence of an irrational ideology which is opposed to scientific and industrial progress and impedes economic and social development.

We contend that a Natural State, sometimes idealized by movements with a tendency to look toward the past, does not exist and has probably never existed since man’s first appearance in the biosphere, insofar as humanity has always progressed by increasingly harnessing Nature to its needs and not the reverse. We full subscribe to the objectives of a scientific ecology for a universe whose resources must be taken stock of, monitored and preserved.

But we herewith demand that this stock-taking, monitoring and preservation be founded on scientific criteria and not on irrational preconceptions.

We stress that many essential human activities are carried out either by manipulating hazardous substances or in their proximity, and that progress and development have always involved increasing control over hostile forces, to the benefit of mankind.

We therefore consider that scientific ecology is no more than extension of this continual progress toward the improved life of future generations.

We intend to assert science’s responsibility and duties toward society as a whole.

We do, however, forewarn the authorities in charge of our planet’s destiny against decisions which are supported by pseudoscientific arguments or false and nonrelevant data.

We draw everybody’s attention to the absolute necessity of helping poor countries attain a level of sustainable development which matches that of the rest of the planet, protecting them from troubles and dangers stemming from developed nations, and avoiding their entanglement in a web of unrealistic obligations which would compromise both their independence and their dignity.

The greatest evils which stalk our Earth are ignorance and oppression, and not Science, Technology, and Industry, whose instruments, when adequately managed, are indispensable tools of a future shaped by Humanity, by itself and for itself, overcoming major problems like overpopulation, starvation and worldwide diseases.”

Sobre os traidores

“A nation can survive its fools, and even the ambitious. But it cannot survive treason from within. An enemy at the gates is less formidable, for he is known and carries his banner openly. But the traitor moves amongst those within the gate freely, his sly whispers rustling through all the alleys, heard in the very halls of government itself.

For the traitor appears not a traitor; he speaks in accents familiar to his victims, and he wears their face and their arguments, he appeals to the baseness that lies deep in the hearts of all men. He rots the soul of a nation, he works secretly and unknown in the night to undermine the pillars of the city, he infects the body politic so that it can no longer resist. A murder is less to fear.”

Marcus Tullius Cicero (106-43 AC)

Inconfidência carioca

A gente falava de Dalí e Buñuel e então de súbito o céu pintou-se de azul Dalí! Interrompi nossa conversa por escrito e aceitei o convite da janela porque aquele quadro não duraria nem um minuto.

Mas outros vieram em seguida. Riscado de traços esparsos de nuvens, o céu se decompunha no crepúsculo em muitos tons de azul que iam tendendo ao violeta sem nenhuma pressa. Música para os olhos se diria, tão comovente era! Fiquei ali, feliz com o tamanho e a cor da minha felicidade – que podia ser de todos, mas era só minha mesmo: não havia mais ninguém nas janelas.

Nem as TVs e as rádios anunciavam em edições extraordinárias: “Um azul Dalí de causa desconhecida foi localizado nos instantes iniciais do poente agora em curso e ainda pode ser visto neste momento a olho nu de qualquer ponto da cidade.”

Não, as TVs e as rádios àquela hora certamente se dedicavam ao carnaval. Ao que restou dele e que a cada ano se repete como minuciosa monotonia: as mesmas pessoas, os mesmos lugares, os mesmos nomes, os mesmos substantivos e os mesmos adjetivos, as mesmas marchinhas e os mesmos sambas – até os sambas novos são os mesmos!

Sim, leitor, é muito grave o que direi a seguir em tom de denúncia. Não duvido que no íntimo muitos já tenham descoberto a mesma coisa, mas é tão chocante o fato que relutamos em admiti-lo porque é imenso o risco de se abalarem as convicções e esperanças que sustentam a nação.

Como prova da verdade do que irei dizer, peço ao leitor que busque na TV ou em alguma gravação imagens deste último carnaval ou de qualquer outro. Mas vamos assistir a essas imagens em silêncio, sem som nenhum, do mesmo modo como ainda há pouco assistíamos ao crepúsculo.

Repare bem nesses corpos de plástico que se sacodem à nossa frente tentando quase desesperadamente simular alegria. O que sentem esses corpos, o que pensam? Eles se sucedem iguais, minuciosamente iguais, monotonamente iguais. E tristes.

Sim, leitor, o que vou dizer é exatamente isso que você já deve ter intuído: o carnaval é uma festa triste. Dói dizer, mas salta aos olhos. Impossível negar: o carnaval é uma festa triste. Uma festa triste como um velório onde revemos parentes e amigos, contamos velhas piadas em voz baixa e saímos discretamente para uma cervejinha a pretexto de comprar flores.

“Quem é o morto?”, lembrará alguém de perguntar. Todos esses corpos de plástico movidos a ambição e vaidade que se agitam em espasmos silenciosos na sua frente e que durante todo o ano você irá rever em anúncios e novelas, “cadáveres adiados que procriam”.

Mas não fale isso alto. Deixe que eles continuem acreditando. Sempre haverá os que acreditam – em carnaval, promessa de político, notícia de jornal. A eles se reserva o inferno dos bem-intencionados.
Mas cá entre nós e quem ninguém nos ouça: como é triste o carnaval. Melhor ficarmos com os silenciosos crepúsculos que são música para os olhos.

To be or not to be

O impasse de Hamlet é permanente: deixar durar ou interromper? Seguir ou desviar? Deixar fluir ou cortar?
Releio o monólogo e, até à próxima leitura, me parece que Shakespeare/ Hamlet não tem dúvidas quanto à continuidade do ser depois da morte. O que lhe impede o suicídio é a incerteza quanto ao que virá depois: será melhor, será pior? E que relação a vida guarda com o que virá depois? Houvesse a certeza de que a morte é mesmo o fim definitivo, não haveria relutâncias – e as pessoas talvez se tornasse boas por medo da solidão ou da falta de empregados – por egoísmo, enfim – ou como sempre.

Do mesmo modo, houvesse a certeza do esquecimento do que abdicamos quando escolhemos um caminho em detrimento de outro, mudanças ou continuidades seriam fáceis. Pois logo perderíamos a noção do que foi deixado para trás e viveríamos num presente sem arrependimentos ou remorsos. Um presente mais pobre, pela ausência do passado e sobreutdo sem a possibilidade da memória nos enriquecer a percepção do presente.

O fundamento do poder

O poder se funda na escassez.

Escassez de recursos, escassez de oportunidades, escassez de meios, escassez de produtos. A abundância fomenta e estimula a liberdade, a criatividade, a ousadia porque sempre se pode contar com o excedente, seja sob a forma de crédito, seja sob a forma de caridade.
A escassez, ao contrário, propicia o medo, a reserva, o egoísmo. Mais do que conservador, o sujeito torna-se um reacionário: a “aversão ao risco” toma forma de paranóia e ninguém quer ou permite mudanças.

Por trás de boa parte das críticas ao industrialismo – sobretudo as críticas recentes de caráter ecológico – está a nostalgia de uma sociedade “aristocrática”, altamente hierarquizada, rigidamente controlada.

Martin Heidegger é o patrono mais ou menos explícito dessas idéias que enxergam o homem livre como uma anomalia civilizatória e antinatural. Para essa gente – não custa lembrar que Heidegger se afastou do nazismo por considerar que ele tomava rumos populistas e impuros demais para seu gosto – para essa gente, eu dizia, liberdade e natureza são termos opostos conflitantes.

E, de fato, se tomarmos a natureza como o reino da necessidade, nela não haveria lugar para a liberdade. Melhor até: a questão da liberdade não se coloca na natureza. É uma questão essencialmente humana. Na natureza as coisas são o que são, sem nuances: leões vegetarianos só existem na ilha do Éden, do Fantasma (quem lembra?).

Não é preciso muito esforço para perceber que para o fundamentalismo ecológico é a liberdade humana que deve ser sacrificada no altar da natureza. Ao renunciar à liberdade, o homem abriria o caminho de retorno à pureza adâmica, primeira, que hoje só pode ser vislumbrada pelos poucos sacerdotes iluminados desse fundamentalismo nem tão novo assim.

Em contrapartida, há uma ecologia que não recusa o industrialismo e mesmo dele resulta, numa relação que é completar e necessária. Não só por conta de todas as boas intenções que dizem lotar os infernos, mas também por uma razão muito simples: lucro.