A aposta de Pascal

Logo saberemos.
É só nossa ansiedade que faz parecer longa a espera.
“Aproveitar a vida” não depende de crenças,
mas do talvez nem tão misterioso gosto
de ser barco ou de ser porto,
de ser livro ou paisagem.
Pouco ou nada escolhemos,
ainda que sejamos livres,
livres até o ponto do desespero.

Logo saberemos.
E quanto mais perto o momento presumido,
mais calmo eu me sinto.
Outros ao contrário parecem atônitos com os efeitos do tempo.
A mim, envelhecer é a novidade nem sempre cômoda de agora.
Não reclamo: quase morri de juventude.
A velhice ao menos me parece mais segura.

Logo, logo saberei.
A esperança na continuidade – que decorre da fé – não me apressa, mas atiça a curiosidade: como será?
E o que me resta de ceticismo contrapõe: e se não houver nada?
Ora, nada saberei.

Minhas memórias, esta modesta biblioteca, o prazer da metafísica e da oração são a metrópole que percorro como um flaneur. Por ora, basta-me. E teria me bastado, se nada houvesse depois.

Às vezes, penso vislumbrar um jardim.
Não tenho pressa. Logo saberei.